quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Polishop e a igreja

Olha, a propaganda é a alma do negócio.
Passando pelos canais de TV, acredito que todos já ficaram alguns minutos assistindo as invenções fabulosas do canal Polishop, pensando que realmente a sua vida nunca fez sentido porque você não conhecia os aparelhos de última geração vendidos pelo canal...

"Emagreça com o grill do George Foreman!"
De repente, raciocino que meus quilos a mais não são resultado de uma alimentação absurda, baseada em frituras, conservantes e muita inércia como cobertura, mas sim porque não tenho o grill do George Foreman.
"O AB Shaper substitui TODOS os aparelhos de uma academia."
Porque as academias não se enchem daquele troço e pronto? Pra que leg press, supinos e coisas do gênero?
"Seu cabelo não é rebelde, já é anarquista?"
Compre a escova trá lá lá, que gira 300 mil voltas por minuto, com a mesma intensidade de uma furadeira." E novamente me pergunto: porque os profissionais da beleza preferem ter L.E.R. de tanto fazer os mesmos movimentos escovando cabelos ao invés de comprar os maravilhoso aparelho que alisa até bombril?
"Emagrecer é coisa do passado!"
Use o modelador por baixo de vestidos, calças e pareça magra!" Eles só não dizem o que a mulher vai fazer quando for processada por propaganda enganosa, quando perceber-se tudo o que etsá espremido naquele instrumento de tortura...

THE question: porque essas coisas, tão maravilhosas e com tantas promessas, não substituem as nossas velhas e tradicionais maneiras?

Simples: nem tudo pode ser substituído por fórmulas mágicas. Sem contar que nossos olhos brilham porque tudo o que nos é oferecido tem as palavras mágicas da pós-modernidade: sem esforço, menos tempo, com a maior facilidade...

Trazendo isso para a vida espiritual, vejo que algumas igrejas resolveram adaptar a mensagem Polishop no desenvolvimento espiritual. Até imagino a propaganda:

"Está cansado de ir na Escola Bíblica Dominical, tendo que abrir a Bíblia e aprender o que está escrito em 66 livros? Não aguenta mais esse papo de santificação, que parece uma dieta, cortando tudo o que é gostoso e deixando só o que é saudável e sem graça? Os seus problemas acabaram! Chegou o kit crente-poderoso!
Depois de confirmado o pagamento, você recebe seu kit crente-poderoso contendo: sal grosso, água ungida, sabonete ungido, toalhinha ungida e um livrinho cheios expressões crentes para parecer espiritual! E não perca a promoção: ligando agora, você recebe seu certificado de dizimista fiel, assinado por Jesus. Não perca a oportunidade de ser crente sem precisar entender o Antigo Testamento. Deixe as várias cartas de Paulo de lado e economize tempo para ir ao cinema, pescar ou viajar!"

Sinceramente?
• Sal grosso só teria sentido pra mim se o capiroto tivesse pressão alta;
• Água ungida: se você assistiu Sinais, com o Mel Gibson, sabe o quanto a água pode ser útil nos momentos de tensão e medo no encontro com seres sobrenaturais;
• Sabonete: nada irrita mais o diabo do que um crente de corpo limpo! O espírito? A gente cuida outra hora!
• Toalhinha ungida: lembre-se que uma toalha usada por um "pastor-de-santo" é mais santa;
• Certificado de dizimista fiel: assim como seguro e plano de saúde, só usufrui da "bença" quem tá com as prestações em dia, claro!

Claro que a Bíblia mostra que essa situação não é nova nem original:
"Jesus entrou no templo e expulsou todos os que ali estavam comprando e vendendo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas, e lhes disse: "Está escrito: 'A minha casa será chamada casa de oração' mas vocês estão fazendo dela um 'covil de ladrões'..." (Mateus 21.12,13)


Estamos nos acostumando a essa situação... Muitos não conseguem entender o que se passou no coração de Jesus ao dar de cara com os vendedores no templo... E esquecem que ele não mudou de opinião...

=S

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Contextualizando

"Depois todos foram para casa, mas Jesus foi para o monte das Oliveiras. De madrugada ele voltou ao pátio do Templo, e o povo se reuniu em volta dele. Jesus estava sentado, ensinando a todos. Aí alguns mestres da Lei e fariseus levaram a Jesus uma mulher que tinha sido apanhada em adultério e a obrigaram a ficar de pé no meio de todos. Eles disseram: - Mestre, esta mulher foi apanhada no ato de adultério. De acordo com a Lei que Moisés nos deu, as mulheres adúlteras devem ser mortas a pedradas. Mas o senhor, o que é que diz sobre isso? Eles fizeram essa pergunta para conseguir uma prova contra Jesus, pois queriam acusá-lo. Mas ele se abaixou e começou a escrever no chão com o dedo. Como eles continuaram a fazer a mesma pergunta, Jesus endireitou o corpo e disse a eles: - Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher!



Depois abaixou-se outra vez e continuou a escrever no chão. Quando ouviram isso, todos foram embora, um por um, começando pelos mais velhos. Ficaram só Jesus e a mulher, e ela continuou ali, de pé. Então Jesus endireitou o corpo e disse: - Mulher, onde estão eles? Não ficou ninguém para condenar você? - Ninguém, senhor! - respondeu ela. Jesus disse: - Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais!" (João 8.1-11)

É claro que o esperado era Jesus meter o dedão na cara dela e chamá-la de perdida, pecadora, sem vergonha e todos os adjetivos moralistas. Pelo menos eu acho que era isso que os discípulos esperavam.
Mas não.
Vemos um Jesus que era tremendamente inteligente. Bom, mesmo em forma humana, Ele ainda era Deus. Na limitação que este corpo e esta mente possuem, Ele ainda era Deus.
A pegadinha da coisa era que se Ele falasse "não façam isso, vamos perdoar, faça amor não faça guerra" (como muita gente acha que era o discurso Dele), Ele estaria desobedecendo a lei dada a Moisés e estaria sendo um rebelde, um herege e também seria condenado. Mas se Ele gritasse "taca pedra na Geni", Ele também responderia, porque estava sob o domínio romano e só Roma tinha poder pra tirar a vida de pessoas.

Mas não era só isso. Essa passagem não se refere apenas a escapar de armadilhas. Era uma mensagem de amor e perdão.

Creio que Jesus ficou com o coração triste ao ver a situação daquela moça. Ao examinar o que se passava naquele momento, Ele deve ter lido em seu rosto a vergonha, o desespero, o medo. As marcas que ela carregava no corpo e na alma. As tristezas, decepções, desilusões. A falta de perspectiva na vida e a falsa segurança da ideologia de "apenas aproveitar o momento". E na sua resposta aos homens que a acusavam, Ele oferece perdão e amor.

Note: PERDAO e AMOR.

Não apenas amor. Ele não foi apenas bonzinho. Não a tratou como vítima. Não passou a mão na sua cabeça e disse: vamos esquecer tudo isso.

Houve também palavra de correção: vá e não peque mais. Vá e não faça isso novamente.
Implícito: eu te amo, mas o que você faz é errado.
Palavras de correção e amor de um pai.

A nossa sociedade não entende o que é receber o perdão porque não reconhece que erra. Tudo é conveniente, tudo é ponto de vista, tudo é relativo. Mas no fundo, não tão no fundo, sabe que debaixo de todas as justificativas, de todas as fugas, de todas as desculpas, existe a certeza de que erramos conscientemente. Esses erros chama-se PECADOS.
Eu posso receber amor de Deus sem me arrepender?
Não exatamente. Abrir os olhos pela manhã, uma família que me ama, ter o alimento na mesa, um emprego que me sustenta, tudo isso é fruto da misericórdia de Deus que se renova a cada manhã. Mas isso não quer dizer que estou usufruindo esse amor. É como se eu vivesse de amostras grátis de um produto que eu adoro, mas sem comprar a embalagem normal porque não quero pagar o preço estabelecido.

Deus nos oferece o perdão de nossos pecados através de Jesus. Jesus não odeia os mentirosos, os ladrões, as prostitutas. Ele odeia o que eles fazem, porque os afasta Dele. Ele veio à terra para nos dar exemplo de como Deus quer que vivamos. E hoje o mundo ao nosso redor perdeu os princípios, os parâmetros, o caráter e diz que você pode personalizar tudo, até Deus. Você pode montar o seu Deus particular como quem monta o senhor Cabeça de Batata.
Uma característica agradável a mim daqui, outra dalí e o deus que eu consigo é um recorte particular, feito à minha imagem e semelhança. E é claro, como um pai idealizado por crianças e adolescentes, é legalzão, aceita tudo o que é feito e nunca corrige.

Hoje a mulher simplesmente poderia responder a Jesus: "peraí, mas eu não pedi perdão de nada! Quem você pensa que é pra vir me falar de perdão? Eu sei o que eu estou fazendo, quem decide a minha vida sou eu! Fica na tua ou eu te processo por discriminação!"
As pessoas querem amor.
Não querem perdão.
Não querem reconhecer que erram.
Uma pena...
Deus já sabe onde esses erros vão levá-las. Por isso enviou Jesus para resgatá-las.
Mas elas preferem pagar o preço.
Pena que ainda não compreenderam o preço que foi pago por elas, numa cruz, há muito tempo atrás...



sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Moldando (e sendo moldada) em 2011

Sabe o cara que faz vasos, com aquela mesinha giratória? Chama-se oleiro e a mesinha é a roda.
Moldando o barro, ele decide o formato que vai dar ao vaso e, pela sua experiência sabe onde pressionar para dar a ele a forma desejada.
O profeta Jeremias (meu profeta favorito!) usou essa imagem para ilustrar a vontade de Deus em nossa vida.
“O Senhor mandou-me a seguinte ordem:
‘Jeremias, desce à casa do oleiro e ali te darei a minha mensagem.’ Quando lá cheguei, encontrei o oleiro a trabalhar na roda. Quando um utensílio de barro saía imperfeito, ele amassava o barro de novo e fazia algo diferente. Então o Senhor disse-me: ‘Será que não tenho o direito de agir com o povo de Israel como o oleiro procede com o barro? Vocês estão nas minhas mãos como o barro nas mãos do oleiro.’ (Jr 18.1-6)


Hoje estou na roda do oleiro.
Não é confortável. Não é prazeroso.
É necessário.
Confesso que durante muito tempo fugi desse momento. Claro que disfarçadamente. Fugi de uma forma que, aos outros, até parecia espiritual.
Tinha minhas filosofias. Minhas justificativas teológicas. Minha experiência de vida, acumulada em tantos anos de vivência.
Cada um desses elementos correspondia a quilômetros de distância da vontade de Deus para minha vida. E de certa forma também me afastavam de Deus.
O problema hoje é que estar nas mãos do oleiro significa muitas coisas. Apesar de saber que é para o meu bem, sinto muitas coisas se agitando dentro de mim de uma forma que nem sempre eu consigo lidar.
Ao rodar na mesa, percebo que não sou eu quem escolhe a direção nem a velocidade da mesa, é o oleiro. E o oleiro é Deus. Não que eu não confie nas Suas escolhas. Mas o desejo de dar a minha cara, o meu formato à minha vida é muito forte. Minhas escolhas nem sempre são as mesmas de Deus. Ok, a verdade é que dificilmente estão de acordo com Deus. E nessa hora em que Ele me gira, Ele molda de acordo com Seus planos. E aos poucos devo abrir mão dos meus. O que fazer com aquelas listas de resolução de Ano Novo, com os planos e sonhos, com os projetos e tudo o mais? Simples. Ponha nas mãos Dele. Ele saberá o que fazer. Sempre.

Mas continuar na mesa me deixa tonta. Com tudo girando, não consigo enxergar nada claramente. Tudo perde o foco, perde a lógica. E quem me conhece sabe o quanto isso me afeta. O quanto me irrita. Só que Deus não segue a minha lógica (obrigada, Senhor!). Se os planos Dele são diferentes dos meus, é claro que o processo também. E sabe quando eu vou ter o entendimento Dele, pra acompanhar Seu raciocínio? Nunca, nunquinha. Claro que é mais fácil em minha insignificância olhar para Deus, puxá-Lo para perto de mim e dizer: “mas, Senhor, raciocine comigo...” Pretensão pura. Querer que Deus atue de acordo com os meus modos de ver as coisas, que Ele veja que são melhores que os Dele. Certo. Então virei Deus? Se Watson ensinando Sherlock Holmes já é uma coisa absurda, imagine esta mortal chechelenta querendo ensinar Deus...

Por último, reconheço que o problema não é não gostar do resultado. Eu sei que Ele fará algo lindo com este barro sem vergonha. Humanamente falando, o palhaço pega uma bexiga e faz um cachorrinho, uma bicicleta e mais um monte de coisas. Deus pegou o nada e fez esse mundo que nos rodeia (que é lindo, nós é que o estragamos). Creio, sim, que desta matéria prima falha Ele conseguirá fazer alguma coisa. Nem que seja patê.
Esse processo é doloroso porque devemos abrir mão de nós mesmos para que o Pai tenha livre acesso ao comando. E isso não é fácil. Entregar o controle nos amedronta. Entregar o mouse, a senha do banco, a chave de casa, o carro... Fizemos nossas escolhas nossa vida inteira, tomando as decisões. Como deixar de fazer isso sem sentir nada?
Deus entende que eu não vou passar por esse processo com aquela cara de santa feita de gesso. E nem impassível como ela. Não vou ter aquela utópica serenidade, impossível aos padrões humanos. Eu vou chorar (como já chorei), vou sentir raiva, vergonha. Vou querer desistir, achando que não adianta, que já não há mais jeito pra mim. Assim como um dependente químico durante a recuperação.
Mas assim percebo que o meu ego é igual à droga, me aprisionando e me arrastando para um lugar que eu não escolho, nem reflito, apenas obedeço. E assim como a droga, ele não escolhe um bom lugar ou um futuro brilhante. Apenas Deus deseja isso pra mim. E só Ele pode me dar.

Um versículo bíblico que tem me acompanhado durante muito tempo é “aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus.” (Salmos 46.10). Você pode ler essa frase de várias maneiras. Depende de como Deus quer falar com você. Comigo, vejo Deus me avisando: fique quieta. Ele sabe como isso é difícil pra mim e que é complicado obedecer. Em segundo, vejo um tremendo destaque ao pronome EU. É Deus me falando: Eu estou no controle da coisa, não você. Mas não são palavras duras, com dedo apontado na minha cara, me empurrando para fora da sala Dele ou mostrando a palma da mão para que eu cale a boca. É como um pai me colocando no colo, avisando que Ele cuida de mim e que eu não tenho com o que me preocupar, apenas fazer o que Ele quer que eu faça.

Hoje vejo o Pai me chamando de novo pra botar a conversa em dia.

Eu peço que 2011 seja um ano diferente. Mas não tem como ter um ano diferente sem deixar os péssimos hábitos para trás. Somo seres condicionados e largar os costumes é algo difícil. Mas necessário.
O que me alegra é saber que tudo isso vai ser preparação para um novo ano. O que Deus me reserva? Não sei. E novamente lembro-me de Paulo, citando o profeta Isaías, ambos na mesma confiança em Deus:
“mas, como está escrito: nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam.” (1Co 2.9)

Que 2011 seja o ano da mudança. Não apenas ao meu redor. Em mim. Nos padrões de Deus, para fazer a Sua vontade, que é “boa, perfeita e agradável” (Rm 12.2). E com certeza, melhor que a minha.

=)