segunda-feira, 23 de abril de 2012

Hoje não... E nem nos outros dias...

O pior de tudo não é ver o facebook repleto de erros de português. Claro que quando vejo palavras como “simplismente”, “menas”, “axo” escritas sobre uma bela foto, tenho vontade de pegar uma caneta vermelha e escrever na tela do computador. Frases de coração partido, ou sensuais ao extremo, de meninas que ainda nem aprenderam a resolver uma equação de 2º grau também não chegam a tirar meu sono. A mediocridade escolar dessas pessoas ainda é suportável. 
Creio que o pior de tudo é conhecer as figuras que vomitam pérolas extraídas do Google, ignorando até mesmo as pessoas citadas em seus posts. Claro que essas pessoas ignoram que qualquer um sabe que elas não pegam num livro nem sob tortura, nem por engano. 
Garotinho, seus amigos sabem que você não lê nem o enunciado de sua prova, que você começa a suar frio quando dá de cara com palavras proparoxítonas. Encontros consonantais são invenção do capeta, não é? 
Garota, suas amigas dão risada ao imaginar você com um livro na mão, folheando páginas e realmente se importando com algo em sua cabeça que não seja seu cabelo precisando de renovação de tintura na raiz... Claro que você, pobre ser, ignora a desonra que comete com o nome dos escritores usados por você como elevadores sociais. Claro que você adora citar “Clarisse Lispector”, quando o nome da escritora é escrito com “c”. Mas quem se importa? O importante é escolher uma frase na internet, como quem busca um nome na lista telefônica, ilustrá-la com uma bela imagem e publicá-la, esperando que seus amigos curtam.


Você canta Michel Teló e no mundo virtual seu avatar cita Renato Russo? 
Literatura para você é Crepúsculo e no facebook você cita Martin Luther King, com sua frase sobre o silêncio dos bons? Você já se deu ao trabalho de conhecer seu discurso mais famoso? Sim, começa com “eu tenho um sonho...”, mas você sabe qual é a quinta palavra dessa frase? 
Você, que deseja realmente demonstrar algum conteúdo intelectual, POR FAVOR, leia um livro. Faça este esforço, vale a pena. Garanto que não dói. Assim, você vai aprender a desenvolver ideias, debater assuntos, não apenas “curtir” e “compartilhar”. De quebra, você vai aprender a escrever. Não deixe que sua vida dependa do corretor ortográfico do Word (sim, aqueles subscritos verdes e vermelhos não são enfeites...). 
Tome uma atitude. Mostre que a dor e agonia de seus professores de português não foram em vão. 
Comunique ao mundo que você realmente vive a ideia de que a educação pode mudar o país, não apenas compartilha imagens falando sobre isso. Busque ser um intelectual, não um fake (isso você entendeu, não é?). Os pensadores buscaram mudar o mundo através da renovação da mente, da linha do pensamento, do ponto de vista, não da repetição burra e sem análise... 

Agora, se você decidiu ser um pseudo-intelectual, seguem as dicas valiosas do blog Sou paranóico

1. Comece todas as frases com uma citação de um filósofo, de preferência com um nome alemão, o mais obscuro possível.

2. Ouça alguns fragmentos de música clássica, o suficiente para criticar qualquer uma delas, com qualquer pessoa que encontre à sua frente.

3. Leia a orelha e a contracapa dos livros que encontrar na livraria mais próxima, e critique-os junto dos amigos, com cara de quem leu os livros na íntegra.

4. Vá ao dicionário (ou à wikipédia) e procure as dez palavras com maior número de sílabas que conseguir encontrar. Empregue-as avidamente.

5. Se não quiser ter o trabalho de memorizar as dez palavras, utilize o máximo possível de estrangeirismos. Para este efeito dê preferência a alocuções latinas, francesas e inglesas, pela ordem.

6. Utilize o máximo possível de palavras terminadas em “ismo”, tais como “interpretatismo”, “conceitualismo”, temperismo” e outras, mesmo que não signifiquem coisa nenhuma.

7. Veja filmes antigos e os utilize para comentá-los com expressões tais como: “é o metapsiquismo do transexistencialismo crônico, na observância das condições ‘sine qua non’ para a hermenêutica da propedêutica”.

8. Fale pouco em muitas palavras. Não diga, por exemplo, “Vou beber água”. Fica muito melhor a um pseudo-intelectual dizer “Vou repor o balanço hídrico”. Ainda melhor, poderá dizer: “Vou fazer como a Frieda, o personagem do livro ‘As Virgens do Lago’, de Von Klinkerhoffen, na cena em que ela fala com se dirige ao seu tutor filosófico” – ninguém sabe quem é o Von Klinkerhoffen. Imagine o quanto você brilhar ao dizer que esta verborréia toda significa que vai beber água.

9. Comente as notícias dos telejornais dos canais estrangeiros, da TV a cabo. Qualquer que seja a besteira que você diga ninguém vai notar, pois seus amigos (como você) nunca assistem a esses noticiários.

10. Fale de tudo sem dizer coisa nenhuma, com o ar de quem é o maior perito do mundo no assunto sobre o qual falou.

11. Regra de ouro: Critique, critique, critique... Lembre-se de um ditado muito utilizado entre os músicos: Quem aprende música e sabe tocar, vai ser músico. Quem não sabe, vai ser crítico.

12. Fuja – fuja correndo – de perto dos intelectuais verdadeiros. Eles, somente eles, podem descobrir que você é apenas um bocó metido a besta.
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Sim, hoje estou de TPM... Mas mesmo nos dias “normais”, continuo sem saco pra algumas baboseiras da internet... Hoje não, e nem nos outros dias...