quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A espiritualidade da vergonha

Na sociedade moderna, a tolerância transformou-se na maior de todas as virtudes. Aceita-se tudo, não se critica nada. O que mais me preocupa não é a capacidade de compaixão e paciência que a tolerância produz em nós, mas a ausência, cada vez maior, de valores e princípios absolutos que nos ajudam a separar o justo do injusto, o certo do errado.
O sociólogo francês Gilles Lipovetsky, em seu livro “A Sociedade Pós-Moralista”, descreve assim a tolerância na cultura moderna: “A tolerância adquire uma maior fundamentação social não tanto pelo fortalecimento da compreensão dos deveres de cada um perante o próximo, mas em razão de uma nova dimensão cultural que rejeita os grandes projetos coletivos, exaurindo de sentido o moralismo autoritário, diluindo o conteúdo das discussões ideológicas, políticas e religiosas de toda a conotação de valor absoluto, orientando cada vez mais os indivíduos rumo à sua própria meta de realização pessoal”. Ou seja, a ausência de uma consciência coletiva, a rejeição a qualquer verdade que seja absoluta e a busca pela realização pessoal geram uma forma perigosa de tolerância.
Entretanto, o perigo da rejeição a uma verdade absoluta está no fato de que ser tolerante hoje implica, necessariamente, não julgar, não ter mais critérios que separem o bem do mal, o justo do injusto; e, uma vez que não julgamos mais, poucas coisas nos chocam ou abalam e, quando o fazem, é por pouco tempo. Vivemos um estado de normalidade caótica, de paz frágil, de tranqüilidade tão relativa quanto os nossos valores.
Na oração de confissão de Daniel há uma declaração que vem se tornando cada dia mais rara entre nós: “A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós, o corar de vergonha” (Dn 9.7). Isto não acontece mais. Somos demasiadamente tolerantes para “corar de vergonha”. Mesmo diante de fatos trágicos e deploráveis que vemos todos os dias, o máximo que conseguimos é uma indignação passageira. Porém, é a possibilidade de corar de vergonha que não me permite rir da corrupção, achar normal a promiscuidade, conviver naturalmente com a maldade e a mentira, ou, ainda, achar graça da injustiça.
Vivemos numa cultura que se orgulha do pecado, glamourizando-o através dos meios de comunicação, fazendo das tribunas públicas um palco de mentiras, organizando marchas para celebrá-lo, rindo da corrupção, exaltando a esperteza. E ninguém fica corado de vergonha.
Daniel contrasta, de um lado, a natureza justa de Deus e, de outro, a corrupção e a injustiça do seu povo. Ele só é capaz de fazer isto porque sua ética e moral estão ancoradas em verdades absolutas sobre as quais não pode haver tolerância. A conclusão a que ele chega é que, diante da justiça divina e do quadro trágico de um povo que se orgulha de sua maldade, o que sobra é o “corar de vergonha”.
Ele nos apresenta aqui a importância de uma vergonha saudável e essencial na preservação da dignidade humana e espiritualidade cristã. A vergonha aqui é a virtude que nos ajuda a reconhecer nossos erros, limitações, faltas e pecados porque ainda somos capazes de perceber que existe algo melhor, mais belo, mais sublime, mais nobre, mais justo, mais santo e mais humano pelo qual vale a pena lutar. A vergonha nos impõe um limite. É por isto que o caminho para o crescimento e amadurecimento passa pela capacidade de ficar corado de vergonha diante de tudo aquilo que compromete a justiça e a santidade. No caminho da santidade lidamos com o amor, verdade, bondade, justiça, beleza, entrega, doação e cuidado. A falta de vergonha nos leva a negar este caminho e optar pela mentira, manipulação, engano, falsidade, hipocrisia e violência.
“Corar de vergonha” é uma virtude que falta na experiência espiritual moderna, a virtude de olhar para o pecado que habita em nós, a mentira e o engano que residem nos porões da alma, a injustiça que se alimenta do egoísmo, a malícia que desperta os desejos mais mesquinhos, e se entristecer. Precisamos reconhecer que foram os nossos pecados que levaram o Santo Filho de Deus a sofrer a vergonha da cruz. Quando olhamos para a cruz e contemplamos nela a beleza e a pureza do amor, só nos resta “corar de vergonha”.

Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do Coração”.


Fonte: 
Site dos Batistas do Norte do Paraná





terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Jesus que nos desaponta


por John Koessler


Quando veio ao mundo, Jesus Cristo fez questão de afirmar que seria motivo de escândalo para muitos, até mesmo de tropeço. Tais advertências parecem perder sentido diante do amor e da obra de salvação promovida pelo Filho de Deus. Porém, aqueles que servem a Cristo são tão propensos a dores e frustrações quanto qualquer outro mortal. Se os evangelhos servem de indicação, podemos até dizer que a decepção é uma certeza. Quem lê os relatos da passagem do Salvador pela terra percebe: o que eles são, senão um registro em larga escala de decepções com Jesus?
Pergunte-se a João Batista, por exemplo. Sentindo-se incomodado na prisão de Herodes, o profeta enviou mensageiros a Jesus com a pergunta direta: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” A indagação vem como uma surpresa. Afinal de contas, João foi um dos primeiros a identificar o Rabi da Galileia como “o qual vem após mim” (João 1.27).  E fez questão de afirmar que ele é que precisava ser batizado pelo Filho de Deus, e não o contrário. João também viu o Espírito de Deus descer sobre Jesus em seu batismo e ouviu uma voz dizer do céu: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”, conforme Mateus 3.17. Portanto, se alguém sabia a resposta a tão inquietante dúvida era o próprio João Batista.
É possível que, nas circunstâncias tão extremas nas quais vivia naquele momento, João tenha se desencorajado. Talvez, a escuridão da prisão de Herodes tenha diminuído sua confiança em Jesus e em sua missão. Mas isso também parece improvável. João estava acostumado a uma vida de dificuldades. Ele se vestia como um nômade e vivia como um homem selvagem do deserto, sobrevivendo à base de insetos e mel, de acordo com o relato de Mateus. Será razoável acreditar que uma cela de prisão poderia destruir seu espírito? Mais ainda, João não ficaria surpreso por se tornar prisioneiro de Herodes; afinal, como conhecedor das Escrituras que era, ele sabia o que acontecia com os profetas – e o destino de um profeta é, em nove de dez vezes, ruim. João dificilmente se chocaria com sua experiência.

“METAS” PARA DEUS
A pergunta de João mostra sua decepção com o relatório que recebeu do ministério de Jesus. Os contornos gerais das expectativas do profeta do Novo Testamento estavam marcados em seus alertas aos líderes religiosos, quando estes vieram até ele para serem batizados. “Raça de víboras!”, João trovejou. “Quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: ‘Temos por pai a Abraão’; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Lucas 3.7-9).
Segundo João, Jesus tinha vindo para peneirar a colheita. De acordo com a Palavra, ele iria juntar o trigo e queimar a palha com fogo inextinguível. Em vez disso, Jesus estava percorrendo as montanhas da Galileia pregando o Evangelho e curando os doentes. O machado havia de fato sido afiado e o fogo, aceso; mas Jesus não parecia interessado em nenhum dos dois. Esse fato estava em tamanha contradição com o entendimento de João a respeito do que o Messias faria que ele não podia evitar seu questionamento. O que está por trás daquela pergunta é, sem dúvida, uma decepção. Expectativas frustradas se encontram no centro de toda decepção. Esperamos alguma coisa e recebemos algo diferente. Queremos carne para o jantar e temos frango. Pensamos que vamos receber a restituição do imposto de renda e em vez disso somos acionados por uma dívida como Fisco. A previsão do tempo prometeu sol para o fim de semana, mas chove! Decepções como essas são tão comuns que, provavelmente, deveríamos estar acostumados a elas.
Mas as coisas são diferentes com Deus. Esperamos um tratamento melhor da parte do Senhor. Sabemos que as pessoas irão nos desapontar, apesar desse conhecimento não aliviar nossa decepção quando isso de fato acontece. Porém, Deus não é assim. Podemos não saber muito de teologia, mas pelo menos sabemos que ele não mente. Não há variação ou sombra de mudança no Senhor; sim, ele é confiável. No entanto, essa boa teologia, por vezes, leva a más práticas. Ela nos faz confundir confiança com previsibilidade. Por pensarmos que a mente de Deus e a nossa são iguais, estabelecemos metas para o Todo-poderoso. Sabemos o que queremos, e então colocamos isso na boca do Senhor, e permitimos que nossos desejos governem nossas expectativas.
Algumas vezes, é verdade, as metas que estabelecemos se alinham com as intenções de Deus. Quando isso acontece, podemos nos sentir tão encorajados que estabelecemos novas metas para ele. Porém, mais cedo ou mais tarde – e provavelmente mais cedo, e não mais tarde –, o agir de Deus estará em tamanho desacordo com nossa expectativa que mal saberemos o que pensar. Oramos por cura, e o doente morre. O emprego, que parecia tão perfeito, fica para outro. E a pessoa a quem devotamos tanto amor não retribui nosso sentimento. O resultado é mais do que uma crise de fé, pelo menos como costumamos definir fé.

INDIGNADOS E AFLITOS
É claro que nem todas as decepções são iguais. A maioria tem pouca importância e é facilmente esquecida. Algumas, porém são mais sérias. Outras nos assombram todos os dias. A decepção de João era do tipo mais sério – era o tipo de decepção que Jonas sentiu quando viu que o povo de Nínive seria poupado da destruição pelo Senhor. Era a mesma frustração que levou o profeta Habacuque a reclamar perante o Altíssimo: “Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão?” É a mesma decepção que eu e você sentimos quando vemos injustiças ao nosso redor. A opressão e o mal parecem estar em toda parte, e Deus parece fazer muito pouco ou nada a respeito.
Já que somos pessoas de ação e fé, fazemos o que está ao nosso alcance para fazer a diferença. Vamos às ruas e ajudamos mendigos. Doamos nosso dinheiro a organizações que lutam por justiça. Votamos e tentamos mudar o sistema. Porém, não importa o que façamos, os problemas se multiplicam. Continuamos à procura de reforço, mas nenhum salvador da pátria aparece no horizonte. De que adianta o Evangelho, se ele permite que um ímpio como Herodes trate um profeta de Deus como seu brinquedinho pessoal? Enfim, desapontamo-nos com o Senhor porque ele permite que os culpados fiquem impunes.
Curiosamente, é possível que se encontre as duas posturas – indignação e aflição – na mesma pessoa. Tais pessoas estão simultaneamente frustradas com Deus por deixar os culpados impunes e aflitos com a ideia da condenação de alguém. São como as pessoas que Jesus descreve depois que os mensageiros de João se retiram: “Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos companheiros: ‘Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes’. Pois veio João, que não comia nem bebia, e dizem: ‘Tem demônio!’ Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!’ Mas a sabedoria é justificada por suas obras” (Mateus 11.16-19). Quando Jesus condena a geração de João com essas palavras, também condena a nossa e oferece uma franca avaliação de nossa ambivalência. O que, de fato, queremos de Deus? Justiça ou misericórdia? O que parece é que desejamos a justiça sem julgamento, e a misericórdia sem justiça.
As condenações de Jesus revelam uma verdade ainda mais desconcertante. Elas sugerem que, de certa forma, Cristo desaponta a todos – e desaponta-os de igual modo. O Filho de Deus não decepciona apenas as pessoas de Nazaré, que o levaram para fora da sinagoga e tentaram jogá-lo de um penhasco porque ele não quis realizar milagres. Ele decepciona também as pessoas de Corazim e Betsaida, onde ele efetivamente fez maravilhas. Sim, Jesus decepcionou a amigos e inimigos da mesma maneira.
A resposta de Cristo à pergunta de João deveria ser uma pista de que deixamos algo passar despercebido. Nossa decepção está ligada, principalmente, a um problema de percepção. O mais impressionante a respeito da resposta de Jesus é que ele não oferece nenhuma informação nova. João já sabia tudo aquilo que o Filho de Deus fala para ele. Até mesmo a descrição dos milagres é apenas um lembrete para João de tudo que ele já ouviu. Como, então, a resposta de Jesus ajuda? Ela faz uma alusão a uma passagem de Isaías, inserida no contexto de uma promessa que João, como um estudioso das Escrituras, reconheceria imediatamente: “Fortalecei as mãos frouxas e firmai os joelhos vacilantes. Dizei aos desalentados de coração: ‘Sede fortes, não temais. Eis o vosso deus’. A vingança vem, a retribuição de Deus; ele vem e vos salvará” (Isaías 35.3-4).
E qual é a resposta de Jesus aos mensageiros de João? “Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o Evangelho” (Mateus 11.4-5). Com efeito, é como se Cristo dissesse: “Diga a João que o seu Deus veio – que veio com vingança. João, seu Deus veio para te salvar”. Em outras palavras, assim como João, nós estamos desapontados com Jesus porque não vemos o que ele está realmente fazendo. Acontece que temos trabalhado sob um grande equívoco. O Salvador veio por nós, mas isso não significa que ele veio para nos agradar.  Jesus veio por nós, mas ele não nos deve satisfações de seus atos. Logo, ele não vai se submeter aos nossos planos, não importa quão bons eles possam ser – em vez disso, ele exige que nós nos submetamos a seus planos.

DOMÍNIO DA GRAÇA
A solução para a nossa decepção é, então, engolir e tolerar isso? Ou admitir que a vida é decepcionante e decidir superar? Não, é justamente o oposto. As palavras de despedida de Jesus aos discípulos de João foram tanto palavras de bênção quanto de aviso: “E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço” (Mateus 11.6). Essas foram as últimas palavras que João ouviu de Jesus antes de morrer, e são as últimas palavras de Cristo para nós sobre o nosso desapontamento, independentemente do motivo.
Diante de uma grande decepção, normalmente queremos uma explicação. Isso porque, de maneira tola, pensamos que assim nos sentiremos melhor. Mas já nos ocorreu que isso, na verdade, pode acarretar efeito contrário? Ao invés de uma explicação, Jesus nos oferece algo infinitamente melhor: ele mesmo. Quando se trata de decepção, não há outra solução. A decepção nos faz desejar devolver na mesma moeda. Enquanto nos agarrarmos a isso, a decepção irá envolver nosso coração como uma serpente; quanto mais forte nos apegarmos a ela, mais ela nos dominará. A única maneira de nos libertarmos é nos ajoelhando diante de Jesus.
Podemos nos agarrar à decepção ou podemos nos agarrar a Cristo. Podemos colocar nossa decepção sob o poder da cruz e nos agarrar à esperança. Quando entregamos nossa decepção a Cristo, na verdade estamos nos entregando a ele; e, enquanto nos apegarmos à esperança, estamos nos rendendo ao domínio da graça de Deus. João sabia disso. Foi isso que a voz vinda do céu havia dito o tempo todo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3.17).  Jesus desaponta a todos. A todos exceto, exceto um – o Pai.

John Koessler é escritor e professor de estudos pastorais no Instituto Bíblico Moody, nos Estados Unidos

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Sobre a Marcha das Vadias


Zenilda Reggiani Cintra, pastora e jornalista, Taguatinga, DF

Hoje em dia as mulheres são taxadas de vadias por qualquer motivo. Jovens, meninas, mulheres de todas as idades recebem esse adjetivo até mesmo de outras mulheres, por causa de discussões, diferenças de opiniões, rivalidades, brigas com namorados ou maridos e, pasmem, até mesmo quando a mulher é estuprada, por mais incrível que pareça.

Foi por este último motivo que surgiu a Marcha das Vadias, acontecida no último final de semana de maio, em vários locais no Brasil, como parte de um movimento internacional. O nome veio em razão da palavra de um policial canadense a respeito de segurança em uma universidade na qual estavam acontecendo vários casos de estupro. Como medida de prevenção, orientou as mulheres a não se vestirem como vadias.


As palavras do policial se tornaram o mote para a marcha, um protesto contra a crença de que as mulheres que são vítimas de estupro pediram isso devido as suas vestimentas. Para impactar a opinião pública, as participantes usam roupas provocantes como blusinhas transparentes, lingeries, saias, salto alto ou apenas sutiã e escrevem frases pelo corpo.
É lógico que a roupa da mulher, ou a falta dela, não justifica o estupro, mas isso não significa que concordamos que uma mulher possa vestir-se de maneira indiscreta, expondo o seu corpo indevidamente. Mas ainda que assim seja, nada justifica o estupro, ou o uso da palavra vadia para ofender uma mulher e, muito menos, como nome para uma Marcha. “Pra mim, o nome ideal seria ‘Marcha das Mulheres Livres’, mas não teria tanto impacto na mídia”, opina Tica Moreno, blogueira militante (www.tpmrevista.com.br). As mulheres enfatizam um termo pelo qual são estigmatizadas, procurando dar a ele um significado positivo. “Eu acho muito difícil reapropriar o significado de um nome”, afirma Lola Aronovich, professora da Universidade Federal do Ceará, e cronista de cinema, também na revista TPM.
É lamentável que uma mulher cristã não possa participar de um ato de protesto, legítimo e que busca a justiça, por causa da maneira como ele acontece. Sentimo-nos constrangidas pelo nome e pela forma como as mulheres são expostas na marcha. Não é porque uma mulher cristã é escolarizada e militante que se justificam atitudes que depõem contra seu testemunho cristão, por mais que saibamos que devemos empreender todos os esforços para combater o estupro.
Muitos dos sofismas deste tempo trabalham sutilmente contra os nossos valores mais profundos e relativizam a integridade de uma mulher. Nossa maneira de lutar também passa pela ética cristã: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim  poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus” (II Cor. 10.4,5).

Extraído de O Jornal Batista, ed. 28, de 08/7/12
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E você? O que acha?

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Meu direito de ser triste



















Ester Carrenho, da revista Cristianismo Hoje

Pego emprestado o titulo de um artigo do psiquiatra infantil, Oswaldo Di Loretto para falar do quanto tendemos a fugir das tristezas que são naturais no decorrer da vida. Nos tempos bíblicos do Antigo Testamento, o pranto fazia parte da cultura israelita. Era comum as pessoas aparecerem em público vestidas com panos de saco e com cinzas sobre a cabeça, como sinal de uma tristeza profunda decorrente do luto ou de um drama humanamente sem solução. Todos respeitavam a atitude, e muitos eram solidários ou se identificavam com o sofredor. Ou seja, havia um espaço na vida das pessoas para se entristecer e aceitar a tristeza do outro.

O tempo passou, alguns hábitos foram extintos e novas posturas ganharam espaço. Hoje, vivemos uma época em que a tristeza é vista como um mal que deve ser evitado a todo e qualquer custo. Isso fica claro quando não queremos contar a verdade sobre um diagnóstico de doença terminal e usamos argumentos paliativos em relação ao doente, ou quando oferecemos calmantes a alguém antes de contar da morte de um amigo ou parente próximo. Em muitos cultos religiosos, os fiéis são até estimulados a jogar a tristeza fora, como se o abatimento e a angústia fossem sentimentos prejudiciais e não aceitos por Deus.

E o problema começa bem cedo. As crianças não têm a permissão para ficarem tristes. Os pais sempre dão um jeito de arrumar algum entretenimento para o pequeno que quebrou o brinquedo favorito ou perdeu o bichinho de estimação; rapidamente, o filho choroso é contemplado com um novo brinquedo ou outro animal, sem ter tempo para internalizar o sofrimento e amadurecer diante da dor da perda. Pior ainda é quando se oferece um chocolate ou bala para a criança entristecida, como que querendo “adoçar” algo que deve ser vivenciado, e não camuflado. 


No caso dos adultos, é grande o arsenal de drogas medicamentosas que têm a capacidade de amenizar e bloquear a tristeza, promovendo uma alegria mecanizada e sem contentamento. Em nossa sociedade, toda manifestação de tristeza é vista como um tipo de depressão que precisa ser medicada.
Esquecemo-nos, contudo, que quem não consegue vivenciar a tristeza em toda sua profundidade também não conseguirá sentir a alegria em toda sua intensidade. Engana-se quem pensa que só a alegria expressa satisfação e contentamento na vida. É possível experimentarmos a tristeza, mesmo que intensa, e ainda assim revelarmos um coração satisfeito e contente, produzindo tesouros para nós mesmos e para os outros. “A poesia nasce da tristeza”, diz Rubem Alves.
Todos, mais cedo ou mais tarde, passaremos por tristezas. Algumas serão leves e passageiras; outras, profundas, como as perdas trágicas e inesperadas. Outros carregarão sempre uma história de privação e desamparo. Porém, podemos reconhecer as dores vividas e encontrar, no lamento – às vezes, milagrosamente –, cicatrização das feridas. Claro, tentamos fugir da tristeza porque é um sentimento que traz dor e desconforto. No entanto, há também beleza e crescimento no caminho da dor. A compaixão, a misericórdia, a ternura e o amor são desenvolvidos com muito mais profundidade por aqueles que se abrem e corajosamente vão até o fim no processo de se entregar às situações de profunda tristeza, estejam elas presentes ou circunscritas ao passado.
Salomão, rei de Israel nos tempos bíblicos e tido como um homem extremamente sábio, descobriu essa realidade. São dele as palavras: “A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração”. Cristo, por sua vez, experimentou o pranto publicamente, quando chorou a morte de seu amigo Lázaro. A caminho do Calvário, o Filho de Deus entristeceu-se profundamente diante da perspectiva de tamanho sofrimento. Em outras ocasiões, contudo, ele foi a festas e alegrou-se com seus discípulos. Então, podemos concluir que tanto a tristeza quanto a alegria são sentimentos que fazem parte do ser gente.
Quem conhece a tristeza no próprio ser sabe acolher as pessoas que passam pela dor. Gente assim consegue aceitar, respeitar e criar espaços para que aqueles que derramam lágrimas de tristeza, seja lá qual for a razão, possam se vestir de “saco e cinzas”, sem censura.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Tome cuidado com o contexto






















Já se perguntou porque os pregadores e estudiosos bíblicos dão tanta  importância ao "contexto" de cada passagem na Bíblia? Na verdade, tomara que dessem mais importância! Nesta breve reflexão, D.A. Carson, um dos maiores intérpretes da atualidade, usando apenas o exemplo de José em Gênesis 39, revela o quanto se pode extrair de um  texto bíblico apenas considerando o contexto. Se a reflexão lhe ajudou, por favor, copie o link no final e passe adiante.

Hoje em dia a maioria de nós já estamos familiarizados com vozes “pós-modernas” que advogam significados abertos. Isso quer dizer, significados que, no final das contas, você ou sua comunidade interpretativa “descobrem”. Isso não é necessariamente o significado que está no texto, e nem necessariamente o que o autor original quis dizer.
Não é nenhuma surpresa que quando essas vozes pós-modernas se voltam para a Bíblia, elas com freqüência são atraídas pelas porções narrativas, uma vez que estas geralmente são mais sujeitas a diferentes interpretações do que um discurso. Admitamos, narrativas são comumente tiradas de seus próprios contextos nos livros nos quais elas foram encaixadas, e são postas isoladamente.
Sem as limitações contextuais, as possibilidades interpretativas parecem se multiplicar, o que é, claro, o que os pós-modernos querem. As narrativas têm outras virtudes: são evocativas, afetivas, imaginativas, memoráveis. Entretanto, a menos que se tome cuidado, são mais facilmente mal interpretadas do que passagens discursivas.
De fato, narrativas curtas não só devem ser interpretadas dentro da estrutura do livro no qual se encontram, mas dentro do próprio corpo literário, e finalmente dentro do cânon. Considere, por exemplo, Gênesis 39, o relato dos primeiros anos de José no Egito. Uma pessoa pode ler a narrativa e extrair dela excelentes lições em como resistir a tentações (p.ex. José se refere ao pecado sexual para o qual ele foi tentado pela esposa de Potifar como “um pecado contra Deus”; não era apenas uma mera fraqueza ou defeito. Ele evita a companhia da mulher; diante da cantada, ele considera sua pureza mais importante para ele do que seu futuro). Porém, uma leitura cuidadosa dos versículos de abertura e fechamento do capítulo também mostram que um dos pontos mais importantes da narrativa é que Deus está com José e o abençoa mesmo no meio das circunstâncias mais amedrontadoras: nem a presença de Deus, nem a bênção de Deus estão restritas a um estilo de vida feliz.
Agora, leia o capítulo no contexto da narrativa precedente: note que Judá se torna o contraste de José. Judá foi tentado em circunstâncias de conforto e abundância, e sucumbe ao incesto; José foi tentando em circunstâncias de escravidão e injustiça, e manteve sua integridade.
Depois leia o mesmo capítulo dentro do contexto do livro de Gênesis. A integridade de José está atrelada com o meio pelo qual Deus providencialmente provê alívio da fome, não somente para milhares, incontáveis pessoas, mas para o povo da aliança de Deus, em particular.
Em seguida, leia dentro do contexto do Pentateuco. A narrativa é parte da explicação de como o povo de Deus termina no Egito, o qual levou ao Êxodo. Os ossos de José são levados quando o povo deixa o Egito.
Amplie o horizonte agora para encaixar-se no cânon como um todo: de repente a fidelidade de José em questões pequenas é parte da sabedoria providencial que preservou o povo de Deus, levou ao êxodo que serviu como um tipo de uma libertação ainda maior, e finalmente que chegou ao filho distante de Judá, Davi, e por sua vez a um filho seu mais distante ainda: Jesus! 
Então, embora possa ser mais apropriado aplicar Gênesis 39 simplesmente como um relato moralizador que nos conta como lidar com a tentação, a perspectiva que se ganha ao considerar um contexto mais amplo revela múltiplas vantagens de se ter mais conexões e significados que leitores (e pregadores) atentos não devem ignorar.

D. A. Carson
Extraído de: www.iluminalma.com

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Hoje não... E nem nos outros dias...

O pior de tudo não é ver o facebook repleto de erros de português. Claro que quando vejo palavras como “simplismente”, “menas”, “axo” escritas sobre uma bela foto, tenho vontade de pegar uma caneta vermelha e escrever na tela do computador. Frases de coração partido, ou sensuais ao extremo, de meninas que ainda nem aprenderam a resolver uma equação de 2º grau também não chegam a tirar meu sono. A mediocridade escolar dessas pessoas ainda é suportável. 
Creio que o pior de tudo é conhecer as figuras que vomitam pérolas extraídas do Google, ignorando até mesmo as pessoas citadas em seus posts. Claro que essas pessoas ignoram que qualquer um sabe que elas não pegam num livro nem sob tortura, nem por engano. 
Garotinho, seus amigos sabem que você não lê nem o enunciado de sua prova, que você começa a suar frio quando dá de cara com palavras proparoxítonas. Encontros consonantais são invenção do capeta, não é? 
Garota, suas amigas dão risada ao imaginar você com um livro na mão, folheando páginas e realmente se importando com algo em sua cabeça que não seja seu cabelo precisando de renovação de tintura na raiz... Claro que você, pobre ser, ignora a desonra que comete com o nome dos escritores usados por você como elevadores sociais. Claro que você adora citar “Clarisse Lispector”, quando o nome da escritora é escrito com “c”. Mas quem se importa? O importante é escolher uma frase na internet, como quem busca um nome na lista telefônica, ilustrá-la com uma bela imagem e publicá-la, esperando que seus amigos curtam.


Você canta Michel Teló e no mundo virtual seu avatar cita Renato Russo? 
Literatura para você é Crepúsculo e no facebook você cita Martin Luther King, com sua frase sobre o silêncio dos bons? Você já se deu ao trabalho de conhecer seu discurso mais famoso? Sim, começa com “eu tenho um sonho...”, mas você sabe qual é a quinta palavra dessa frase? 
Você, que deseja realmente demonstrar algum conteúdo intelectual, POR FAVOR, leia um livro. Faça este esforço, vale a pena. Garanto que não dói. Assim, você vai aprender a desenvolver ideias, debater assuntos, não apenas “curtir” e “compartilhar”. De quebra, você vai aprender a escrever. Não deixe que sua vida dependa do corretor ortográfico do Word (sim, aqueles subscritos verdes e vermelhos não são enfeites...). 
Tome uma atitude. Mostre que a dor e agonia de seus professores de português não foram em vão. 
Comunique ao mundo que você realmente vive a ideia de que a educação pode mudar o país, não apenas compartilha imagens falando sobre isso. Busque ser um intelectual, não um fake (isso você entendeu, não é?). Os pensadores buscaram mudar o mundo através da renovação da mente, da linha do pensamento, do ponto de vista, não da repetição burra e sem análise... 

Agora, se você decidiu ser um pseudo-intelectual, seguem as dicas valiosas do blog Sou paranóico

1. Comece todas as frases com uma citação de um filósofo, de preferência com um nome alemão, o mais obscuro possível.

2. Ouça alguns fragmentos de música clássica, o suficiente para criticar qualquer uma delas, com qualquer pessoa que encontre à sua frente.

3. Leia a orelha e a contracapa dos livros que encontrar na livraria mais próxima, e critique-os junto dos amigos, com cara de quem leu os livros na íntegra.

4. Vá ao dicionário (ou à wikipédia) e procure as dez palavras com maior número de sílabas que conseguir encontrar. Empregue-as avidamente.

5. Se não quiser ter o trabalho de memorizar as dez palavras, utilize o máximo possível de estrangeirismos. Para este efeito dê preferência a alocuções latinas, francesas e inglesas, pela ordem.

6. Utilize o máximo possível de palavras terminadas em “ismo”, tais como “interpretatismo”, “conceitualismo”, temperismo” e outras, mesmo que não signifiquem coisa nenhuma.

7. Veja filmes antigos e os utilize para comentá-los com expressões tais como: “é o metapsiquismo do transexistencialismo crônico, na observância das condições ‘sine qua non’ para a hermenêutica da propedêutica”.

8. Fale pouco em muitas palavras. Não diga, por exemplo, “Vou beber água”. Fica muito melhor a um pseudo-intelectual dizer “Vou repor o balanço hídrico”. Ainda melhor, poderá dizer: “Vou fazer como a Frieda, o personagem do livro ‘As Virgens do Lago’, de Von Klinkerhoffen, na cena em que ela fala com se dirige ao seu tutor filosófico” – ninguém sabe quem é o Von Klinkerhoffen. Imagine o quanto você brilhar ao dizer que esta verborréia toda significa que vai beber água.

9. Comente as notícias dos telejornais dos canais estrangeiros, da TV a cabo. Qualquer que seja a besteira que você diga ninguém vai notar, pois seus amigos (como você) nunca assistem a esses noticiários.

10. Fale de tudo sem dizer coisa nenhuma, com o ar de quem é o maior perito do mundo no assunto sobre o qual falou.

11. Regra de ouro: Critique, critique, critique... Lembre-se de um ditado muito utilizado entre os músicos: Quem aprende música e sabe tocar, vai ser músico. Quem não sabe, vai ser crítico.

12. Fuja – fuja correndo – de perto dos intelectuais verdadeiros. Eles, somente eles, podem descobrir que você é apenas um bocó metido a besta.
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Sim, hoje estou de TPM... Mas mesmo nos dias “normais”, continuo sem saco pra algumas baboseiras da internet... Hoje não, e nem nos outros dias...

sexta-feira, 23 de março de 2012

Discussões, verdades e o Caminho...


Há um discurso predominante no mundo, uma frase que eu considero sem lógica, que diz: “futebol, política e religião não se discutem”.
Certo.
E vou conversar sobre o que? Sobre o Silvio Santos resolver assumir os cabelos brancos?
Minhas conversas giram, sim ao redor desses assuntos. Não só deles, mas eles são parte das minhas ponderações, opiniões e discussões com as pessoas.
Se eu não discutir sobre futebol, não vou expor minha opinião de que essa Copa do Mundo no Brasil é um tremendo desperdício de dinheiro, um investimento fantástico na política do “pão e circo”.
Se eu não discutir sobre política, como vou conscientizar pessoas sobre a importância do voto consciente e de como reeleger políticos corruptos pode destruir, dia a dia, ano a ano, o futuro de nosso país?
Pra mim (e fique bem claro que não creio que isso seja uma verdade absoluta, é apenas minha opinião), essa frase normalmente é usada por pessoas que tem medo de defender suas convicções porque não têm base, nem argumento, nem desculpas, nem lógica, nem linha de raciocínio sobre o que são suas “opiniões”. Mais ainda, tem uma tremenda resistência em aprender, ignorando que com o aprendizado desenvolvemos senso crítico, que nos impulsiona a rever nossos conceitos. Isso nos faz pessoas diferentes. Algumas pessoas simplesmente não querem mudança alguma.
Claro que pensar em mudança está relacionado ao ego. Minha opinião, minha escolha, minha certeza, meu pensar, meu modo de agir. Minhas experiências me levaram a pensar dessa forma. Meu passado me ensinou a viver assim. Minha personalidade faz com que eu me identifique com isto ou rejeite aquilo. Somos frutos de nossa vivência, seja ela boa ou ruim. Esse é o meu jeito de viver...
O problema é quando essa resistência à mudança está relacionada a Deus...
Todo mundo no Brasil se diz “filho de Deus”, acredita que faz parte do povo de Deus. Mas o Deus sendo pregado por aí é um deus hippie, com a cabeça cheia do fumo, pregando um amor que permite qualquer coisa, que está mais preocupado que sejamos felizes, da nossa maneira, só porque ele nos ama...

Véi, na boa... Não caia nessa!

Se você realmente se acha povo desse Deus, veja o que Ele mesmo deixa claro:
...se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra. (2 Crônicas 7:14)
Os princípios de Deus são eternos, não mudam de acordo com seu humor (que também não muda) nem dependendo de com quem Ele está lidando. Abraão, Davi, Pedro ou eu, meu vizinho ou o dono da padaria, todos nós sempre seremos avaliados pelos mesmos critérios. Os de Deus.
No versículo que eu citei, há uma palavra que expressa uma condição: se. Isso quer dizer que a reação de Deus vai depender da minha ação. Primeiro, porque Deus não é trouxa de assinar embaixo de tudo o que fazemos, já que a maioria dessas coisas desobedece a Sua vontade.
Outro caso:
Meu filho, se você aceitar as minhas palavras e guardar no coração os meus mandamentos; se der ouvidos à sabedoria e inclinar o coração para o discernimento; se clamar por entendimento e por discernimento gritar bem alto,
se procurar a sabedoria como se procura a prata e buscá-la como quem busca um tesouro escondido, então você entenderá o que é temer ao Senhor e achará o conhecimento de Deus. Pois o Senhor é quem dá sabedoria; de sua boca procedem o conhecimento e o discernimento. (Provérbios 2:1-6).
Traduzindo: se você buscar o conhecimento de Deus, DA MANEIRA DELE, você O conhecerá. Não adaptar esse conhecimento com o meu pensamento, fazendo uma salada e achando que Deus vai aceitá-la, porque nosso pensamento falho e pecador será uma lagarta bem gorda nessa salada. Sabe aquela sensação de ver algo se mexendo no seu prato? Multiplique pelo infinito e vai ter uma noção do que Deus acha dos nossos pensamentos contaminando os Dele.
Mas o modo de vida que Deus queria parecia muito difícil, muito utópico, inatingível. Então Deus envia Seu Filho perfeito, para nos servir de exemplo. Tipo: “filho, viva no meio deles. Mostre como devem viver, mostre-lhes que é possível. Não só possível, necessário para que eles realmente cheguem-se a Mim”.
Sério, Jesus conhece Deus como ninguém, e isso não é uma figura de linguagem. É como você e seu pai, seu irmão, seu melhor amigo: nenhum bocó que apenas ouviu falar deles vai conhecê-los tanto quando você.
O problema é que sempre vai ter um bocó que vai ter suas próprias más opiniões sobre as pessoas que você ama. Muitas vezes a opinião dele vem de terceiros. Mas por conhecer seus amigos e parentes você sabe reconhece as acusações injustas.
Assim aconteceu com Jesus.


Pessoas que não queriam corrigir seus pontos de vista se ofendiam com seus ensinamentos, porque elas estavam acostumadas ao seu próprio modo de seguir a Deus. Seu ódio por aquele que ensinava o modo certo chegou a tal ponto que o crucificaram. Esse ato está carregado de um ódio tremendo, pois era a pior morte da época, a mais dolorosa e vergonhosa possível.
Mas isso fazia parte de um plano maior. Deus sacrificou seu Filho porque Ele mesmo nos avisa: “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6.23). Nossa desobediência a Deus é tão grave que o castigo é a morte. Mas não essa morte, de enterrar um corpo que voltará ao pó. Não apenas essa, mas também a morte espiritual de passar a eternidade distante de Deus. Esse é conceito de inferno. É a Bíblia que diz que ele foi feito para satanás e seus anjos (Mt 25.41), pois eles se rebelaram contra Deus. E como Deus é justo, Ele tratará TODOS da mesma maneira: os que não querem obedecê-lo, como o diabo e seus comparsas que foram na conversa dele, vão passar a eternidade no lugar feito para os que não querem viver com Ele, pois passaram a vida terrena mostrando isso.
Os cristãos verdadeiros são aqueles que entenderam que dependem exclusivamente de Jesus para que lhes ensine como agradar ao Pai. Mas mais do que isso, reconhecem que são pecadores e que o sacrifício de Jesus lhes trouxe o perdão e por isso passaram a depositar sua vida, seu coração nas mãos Dele. Não são pessoas cuja prioridade é encher uma igreja, tirar dinheiro de pessoas ou vencer uma discussão. São pessoas que sofrem e são capazes de pagar os piores preços para que o mundo entenda que, apesar de encontrar felicidade no erro, está caminhando na direção contrária a Deus. Esses cristão estão sendo processados, torturados, queimados e até mesmo mortos para que o mundo venha a conhecer a Cristo.
Entenda: Jesus sabia do que estava falando. Por realmente conhecer Deus, Seu Pai, Ele, mais do que ninguém, sempre teve autoridade para falar sobre Deus. E disse algo que se tornou um dos versículos mais famosos da Bíblia. Mesmo quem não é cristão sabe de cor João 14.6:
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.


Ser cristão não é fácil. Cristãos sofrem porque muitos continuam buscando seu próprio caminho até Deus. Sofrem porque sabem que, no final dessa caminhada, essas pessoas descobrirão, da pior forma possível, que seguiram um caminho errado e estarão longe demais para retornar. Cristãos desagradam pessoas por não concordarem com seus caminhos que levarão à separação de Deus...
Pensa no filho que sempre foi correto, apontando para o pai os valentões que o agrediram...
Imaginou a cena?
Imagina o sentimento no coração desse pai?
Como acha que ele olharia os agressores de seu amado filho?

É, é isso que vai acontecer... Jesus deixa claro isso:
Quem, pois, me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante do meu Pai que está nos céus. Mas aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante do meu Pai que está nos céus. (Mateus 10:32-33)
O próprio Jesus, diante do Pai, vai apontar os que o desprezaram a vida inteira, que ignoraram o que Ele fez por essas pessoas...
E acha que o pai vai ficar do lado de quem?
Jesus foi morto por mim e por você porque NÃO HAVIA OUTRA MANEIRA.
Ainda hoje, NÃO HÁ OUTRA MANEIRA.
E nunca HAVERÁ!
Ou realmente acha que Deus faria isso com seu próprio Filho para que Ele fosse uma alternativa?

Muitos repetem a frase "todos os caminhos levam a Deus", parafraseando a famosa "todos os caminhos levam a Roma". A segunda era verdadeira, a primeira é uma farsa, mais divulgada ainda na pós-modernidade, onde as verdades absolutas são combatidas e o importante é ser feliz à sua maneira, mesmo que isso quebre padrões e princípios que nortearam gerações...
Não, realmente apenas por Jesus podemos chegar ao Pai...

Não é o meu caminho, que estou tentando enfiar goela abaixo de sua pessoa, querendo vencer uma discussão de religião. É o que Deus me ensinou quando parei de lutar com Ele, fazendo as coisas da minha maneira. E o sentimento que me inspirou a escrever este texto é o de temor pelo que vai acontecer caso você continue ignorando o Filho de Deus...
Ao ler este texto, não pense em mim irritada, tentando apenas fazer com que você concorde comigo, porque eu sou a dona da razão... Para que você realmente entenda a essência desse post, releia-o, imaginando que eu seguro sua mão, meus olhos estão cheios d’água fitando os seus e meu coração está ansioso, desesperado, preocupado com a sua vida espiritual, com a segurança da sua alma.
Eu aprendi que é o que um verdadeiro cristão deve sentir: os mesmos sentimentos que Jesus sente enquanto você lia esse texto...

Qual tem sido a sua visão sobre Jesus?




Marielen Cordeiro

quinta-feira, 22 de março de 2012

Escalar árvores ou sentar no ramos

de Max Lucado


José estava sentado firmemente no seu galho na árvore. Este era grosso, confiável e perfeito para servir de assento. Era tão forte que não tremia com as tempestades, nem se agitava quando os ventos sopravam. Aquele ramo era previsível e sólido e José não tinha intenção de deixá-lo.

Isso até que lhe ordenaram que subisse num outro ramo.

Sentado a salvo em seu ramo, ele olhou para aquele que Deus queria que subisse. Jamais vira outro tão fino! "Esse não é lugar para um homem ir!" disse consigo mesmo. "Não há lugar para sentar. Não há proteção das intempéries. E como seria possível dormir pendurado nesse galhinho vacilante?" Ele recuou um pouco, apoiou-se no tronco e pensou na situação.

O bom senso lhe dizia que não subisse no galho. "Concebido pelo Espírito Santo? Pense bem!"

A autodefesa lhe dizia para não fazer isso. "Quem vai acreditar em mim? O que nossas famílias vão pensar?"

A conveniência o aconselhava a não fazê-lo. "Bem quando eu esperava estabelecer-me e criar uma família."

O orgulho lhe recomendava o mesmo. "Se ela pensa que vou acreditar numa história dessas..."

Mas Deus lhe dissera para fazer isso, sendo essa a sua preocupação.

A idéia o aborrecia porque estava feliz na situação presente. A vida perto do tronco era boa. O seu ramo era suficientemente grande para permitir que ficasse confortável. Ele estava próximo a inúmeros outros sentadores em galhos fizera algumas contribuições válidas para a comunidade de árvores. Afinal de contas, não visitava regularmente os doentes no Centro Médico do Ramo Norte? Não era ele também o melhor tenor no Coral do Arvoredo? E o que dizer da aula que dava sobre herança religiosa, com o título apropriado de "Nossa Arvore Genealógica"? Deus certamente não ia querer que deixasse tudo isso. Ele tinha... bem, poderia ter dito que tinha raízes no lugar.

Além disso ele conhecia o tipo de sujeito que se atira a uma aventura sozinho. Radical. Extremista. Liberal. Sempre se excedendo. Sempre agitando as folhas. Sujeitos com a cabeça cheia de idéias estranhas, procurando frutas estranhas. Os que são estáveis são aqueles que sabem como ficar perto de casa e deixar as coisas correrem.

Acho que alguns de vocês compreendem José. Sabem como ele se sente, não é? Já estiveram ali. Você sorri porque já foi também chamado para arriscar-se e subir em outro galho. Conhece o desequilíbrio gerado quando tenta manter um pé na sua própria vontade e outro na dele. Você também enfiou as unhas na casca da árvore para segurar-se melhor. Você conhece muito bem as borboletas que voam na boca de seu estômago quando percebe que há mudanças no ar.

Talvez mudanças estejam justamente no ar agora. Talvez você esteja em meio a uma decisão. É difícil, não é mesmo? Você gosta do seu ramo. Acostumou-se com ele e ele com você. Da mesma forma que José, você aprendeu a sentar. Você ouve então o chamado. "Preciso que suba em outro ramo e
... tome uma posição. Algumas das igrejas locais estão organizando uma campanha anti-pornografia. Elas precisam de voluntários”.
… mude. Pegue sua família e se mude para o exterior, tenho um trabalho especial para você"
… perdoe. Não importa quem feriu quem primeiro. O que importa é que você construa a ponte."
... evangelize. Aquela família da mesma rua? Eles não conhecem ninguém na cidade. Vá falar com eles."
… sacrifique. O orfanato tem uma hipoteca que vai vencer este mês. Eles não podem pagá-la. Lembra-se do abono que recebeu na semana passada?"

Qualquer que seja a natureza do chamado, as conseqüências são as mesmas: guerra civil. Embora seu coração possa dizer sim, seus pés dizem não. As desculpas surgem como folhas douradas quando sopra um vento de outono. "Essa não é a minha área." "É hora de outro tomar a responsabilidade." "Não agora. Faço isso amanhã"

Mas eventualmente você acaba contemplando uma árvore nua e uma escolha difícil: A vontade dele ou a sua?

José escolheu a dele. Afinal de contas, era realmente a única opção. José sabia que a única coisa pior do que uma aventura no desconhecido era a idéia de negar seu Mestre. Resoluto então, ele agarrou o ramo menor. Com os lábios apertados e um olhar decidido, colocou uma mão na frente da outra até que ficou balançando no ar com apenas a sua fé em Deus como uma rede protetora.

Conforme o desenrolar dos acontecimentos, os temores de José foram justificados. A vida não se mostrou mais tão confortável quanto antes. O galho que agarrou era de fato bem fino: o Messias deveria nascer de Maria e ser criado em sua casa. Ele tomou banhos frios durante nove meses para que o nenê pudesse nascer de uma virgem. Ele teve de empurrar as ovelhas e limpar o chão sujo para que sua mulher tivesse um lugar para dar à luz. Ele se tornou um fugitivo da lei. Passou dois anos tentando aprender egípcio. Houve ocasiões em que esse ramo deve ter balançado furiosamente ao sabor do vento. Mas José apenas fechou os olhos e continuou firme.

Você pode estar, no entanto, certo de uma coisa. Ele jamais se arrependeu. A recompensa de sua coragem foi doce. Um só olhar para a face celestial daquela criança e ele teria feito tudo de novo num momento.

Você já foi chamado a aventurar-se por Deus? Fique certo de que não vai ser fácil. Subir em galhos nunca foi fácil. Pergunte a José. Ou, melhor ainda, pergunte a Jesus.

Ele sabe melhor do que ninguém quanto custa ser pendurado num madeiro...

terça-feira, 20 de março de 2012

Nem Deus socorre Dawkins

Parece que um dos assuntos do momento (na Inglaterra, não aqui) é o olé que o reverendo anglicano Giles Fraser deu em Richard Dawkins durante um programa de rádio na BBC. Para encurtar a história, Dawkins estava falando de uma pesquisa feita por sua fundação com pessoas que se declararam cristãs no último censo britânico. Um dos dados mostrava que dois terços dos autodeclarados cristãos não sabia qual era o primeiro livro do Novo Testamento. Fraser interveio e disse que esse não era um modo confiável de avaliar a religiosidade das pessoas, e para comprovar isso perguntou a Dawkins qual era o nome completo de A origem das espécies. Depois de um punhado de "ums" e "ers", e até um "oh, God", o biólogo não conseguiu se lembrar (mas chegou perto). O diálogo, transcrito pelo Huffington Post e traduzido por mim, é o seguinte:

Fraser: Richard, se eu lhe perguntasse qual o título completo de A origem das espécies, tenho certeza de que você seria capaz de me dizer.
Dawkins: Sim, seria.
Fraser: Então vamos lá.
Dawkins: Sobre a origem das espécies... hm, com, oh, Deus. Sobre a origem das espécies... e tem um subtítulo referente à preservação de raças favorecidas na luta pela vida.
Fraser: Você é o sumo sacerdote do darwinismo. Se você perguntasse essa questão a pessoas que acreditam na evolução e voltasse dizendo que somente 2% acertaram, seria muito fácil para mim dizer "então, eles não acreditam nisso". Não é justo perguntar esse tipo de questão. As pessoas se autoidentificam como cristãos e eu acho que você deveria respeitar isso.

(Em português, o título original seria Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural ou a preservação de raças favorecidas na luta pela vida)

O episódio vale mais a pena como anedota. Sim, o reverendo Fraser tem um bom argumento quanto à identificação entre boa memória para livros e filiação religiosa (ou "científica"), mas essa foi apenas uma das muitas perguntas da pesquisa. O conjunto de dados é bem sombrio, para o leitor que se considera cristão. Mas não é surpreendente, porque a mesma coisa acontece aqui no Brasil. Que objeções o reverendo Fraser poderia levantar ao dado de que boa parte dos autodeclarados cristãos não reza, não vai à igreja (exceto em casamentos, funerais, batizados, e quem sabe na Páscoa e no Natal, como na piada dos esquilos), e nem mesmo crê na divindade de Cristo e na sua ressurreição física?

Só lamento que não haja na pesquisa (pelo menos no que foi publicado até agora) questões sobre como os autodeclarados cristãos veem temas de ciência e fé. Espero que esse conteúdo esteja nas 20 questões cujas respostas a fundação promete publicar em um futuro próximo.


Marcio Campos, extraído da coluna Tubo de Ensaio, do jornal Gazeta do Povo