quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Namore um cara que lê




Publicado originalmente em Acepipes escritos.

Namore um cara que se orgulha da biblioteca que tem, ao invés do carro, das roupas ou do penteado. Ele também tem essas coisas, mas sabe que não é isso que vai torná-lo interessante aos seus olhos. Namore um cara que tenha uma pilha de três ou quatro livros na cabeceira e que lembre do nome da professora que o ensinou as primeiras letras.

Encontre um cara que lê. Não é difícil descobrir: ele é aquele que tem a fala mansa e os olhos inquietos. Ele é aquele que pede, toda vez que vocês saem para passear, para entrar rapidinho na livraria, só para olhar um pouco. Sabe aquele que às vezes fica calado porque sabe que as palavras são importantes demais para serem desperdiçadas? Esse é o que lê.

Ele é o cara que não tem medo de se sentar sozinho num café, num bar, num restaurante. Mas, se você olhar bem, ele não está sozinho: tem sempre um livro por perto, nem que seja só no pensamento. O rosto pode ser sério, mas ele não morde, não. Sente-se na mesa ao lado, estique o olho para enxergar a capa, sorria de leve. É bem fácil saber sobre o quê conversar.

Diga algo sobre o Nobel do Vargas Llosa. Fale sobre sobre as novas traduções que andam saindo por aí. Cuidado: certos best-sellers são assunto proibido. Peça uma dica. Pergunte o que ele está lendo –e tenha paciência para escutar, a resposta nunca é assim tão fácil.

Namore um cara que lê, ele vai entender um pouco melhor seu universo, porque já leu Simone, Clarice e –talvez não admita– sabe de memória uns trechos de Jane Austen. Seja você mesma, você mesmíssima, porque ele sabe que são as complicações, os poréns que fazem uma grande heroína. Um cara que lê enxerga em você todas as personagens de todos os romances.

Um cara que lê não tem pressa, sabe que as pessoas aprendem com os anos, que qualquer um dos grandes tem parágrafos ruins, que o Saramago começou já velho, que o Calvino melhorou a cada romance, que o Borges pode soar sem sentido e que os russos precisam de paciência.

Um namorado que lê gosta de muita coisa, mas, na dúvida, é fácil presenteá-lo: livro no aniversário, livro no Natal, livro na Páscoa. E livro no Dia das Crianças, por que não? Um cara que lê nunca abandonará uma pontinha de vontade de ser Mogli, o menino lobo.

E você também ganhará um ou outro livro de presente. No seu aniversário ou no Dia dos Namorados ou numa terça-feira qualquer. E já fique sabendo que o mais importante não é bem o livro, mas o que ele quis dizer quando escolheu justo esse. Um cara que lê não dá um livro por acaso. E escreve dedicatórias, sempre.

Entenda que ele precisa de um tempo sozinho, mas não é porque quer fugir de você. Invariavelmente, ele vai voltar –com o coração aquecido– para o seu lado.

Demonstre seu amor em palavras, palavras escritas, falas pausadas, discursos inflamados. Ou em silêncios cheios de significados; nem todo silêncio é vazio.

Ele vai se dedicar a transformar sua vida numa história. Deixará post-its com trechos de Tagore no espelho, mandará parágrafos de Saint-Exupéry por SMS. Você poderá, se chegar de mansinho, ouví-lo lendo Neruda baixinho no quarto ao lado. Quem sabe ele recite alguma coisa, meio envergonhado, nos dias especiais. Um cara que lê vai contar aos seus filhos a História Sem Fim e esconder a mão na manga do pijama para imitar o Capitão Gancho.

Namore um cara que lê porque você merece. Merece um cara que coloque na sua vida aquela beleza singela dos grandes poemas. Se quiser uma companhia superficial, uma coisinha só para quebrar o galho por enquanto, então talvez ele não seja o melhor. Mas se quiser aquela parte do “e eles viveram felizes para sempre”, namore um cara que lê.

Ou, melhor ainda, namore um cara que escreve.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Atentados contra a liberdade

O dia 11 de setembro é uma data que será sempre lembrada pelo povo dos Estados Unidos como o dia dos atentados contra as Torres Gêmeas em Nova York. Foi um atentado não somente contra civis inocentes, mas contra a própria liberdade.

11 de Setembro é também um dia de triste lembrança em outro país. Em 11 de Setembro de 1973, Augusto Pinochet liderou um golpe militar no Chile que impôs 17 anos de ditadura àquele país vizinho nosso.
De acordo com relatos oficiais, mais de 3 mil pessoas morreram ou desapareceram durante a ditadura de Pinochet. Um dos primeiros a perder sua vida foi o próprio Presidente deposto, Salvador Allende.
Allende, político socialista, fora eleito em votação democrática no Chile três anos antes. Ele preferiu morrer em meio aos ataques do golpe militar, a se entregar. Ele se alojou no palácio conhecido como “La Moneda” e lá morreu num ataque impiedoso àquele local que simbolizava o governo democrático do Chile.

Segundo relatos, Allende tinha o hábito de entrar e sair do palácio por uma porta lateral na Rua Morand, número 80. Não era a rampa oficial, nem um portão enfeitado e dourado. Era uma porta simples, que dava para uma rua comum.
Era a porta por onde Allende entrava e saía, não como presidente, mas, como cidadão qualquer, sem cerimônia – um chileno comum. Essa era a porta que Allende preferia.
Num ato cheio de significado, depois que o cadáver de Allende foi retirado pela porta da Rua Morand, o ditador Pinochet mandou lacrar aquela porta. Era uma tentativa de sufocar qualquer memória do regime democrático e da liberdade Chilena.
Com seus soldados, canhões e serviço secreto, o ditador Pinochet manteve aquela porta fechada. Ele também manteve o povo do Chile preso e oprimido com sua mão de ferro. Cidadãos comuns foram presos e torturados.
Outros desapareceram para nunca serem vistos pelos seus queridos. Todos que sofreram assim eram culpados da única falha de desejar e buscar a liberdade.
Por quase trinta anos a porta da Rua Morand, número 80, permaneceu lacrada. Ninguém abriu. Ninguém passou por ela. Mesmo depois que a ditadura de Pinochet acabou, as sombras de seu poder e o medo da sua influência continuaram a manter a porta da Rua Morand lacrada.

Mas, numa Quinta feira, 11 de setembro de 2003, a porta da Rua Morand, 80, foi reaberta. Apesar de demorar 30 anos, a porta que simbolizava a liberdade de um país finalmente foi reaberta. E por ela passou o presidente do Chile, Ricardo Lagos, num ato carregado de sentido que dizia para o povo do Chile – “estamos livres novamente.”
Livres da ditadura, livres da opressão, livres para escolher quem vai nos governar, livres para ir e vir.

A liberdade é uma das qualidades mais preciosas para o ser humano.
Revoluções e revoltas. As mais sangrentas batalhas e guerras da humanidade foram travadas para conquistar ou garantir a liberdade.
Uma das poucas coisas pelas quais o ser humano é capaz de lutar e dar a sua vida é conquistar ou defender sua liberdade.
Cerca de 1940 anos antes da reabertura da porta na Rua Morand em Santiago, Chile, outra porta foi reaberta.
Foi também um ato cheio de significado.
Foi também um evento marcado pelo derramamento de sangue.
Naquele local havia também uma porta fechada e lacrada. Naquela ocasião houve a preocupação de enterrar para sempre as esperanças de um povo.
Naquele dia também, parecia que a liberdade havia acabado. Parecia que o inimigo ganhara a batalha final.
Mas, não era assim.
E a resposta não demorou trinta anos. Apenas três dias.
Esses três dias pareciam talvez como anos para o pequeno bando de seguidores.
Para aqueles que viram seu senhor brutalmente assassinado e enterrado, parecia que não havia mais chance, nem de sonhar.
Mas, naquele primeiro dia da semana, as duas mulheres que foram ao túmulo cuidar do corpo de seu querido líder viram o lacre do túmulo quebrado, a porta aberta e encontraram um anjo poderoso, brilhando como um raio de sol, protegendo a porta aberta.

“Depois do sábado, tendo começado o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E eis que sobreveio um grande terremoto, pois um anjo do Senhor desceu dos céus e, chegando ao sepulcro, rolou a pedra da entrada e assentou-se sobre ela. Sua aparência era como um relâmpago, e suas vestes eram brancas como a neve. Os guardas tremeram de medo e ficaram como mortos. O anjo disse às mulheres: “Não tenham medo! Sei que vocês estão procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Venham ver o lugar onde ele jazia. Vão depressa e digam aos discípulos dele: Ele ressuscitou dentre os mortos e está indo adiante de vocês para a Galiléia. Lá vocês o verão.” (Mateus 28:1-8, NVI)

Se a reabertura da porta da Rua Morand simbolizou liberdade para o povo Chileno, muito mais a reabertura do túmulo de Jesus significa liberdade para o povo de Deus.
Liberdade do medo da morte.
Liberdade da condenação eterna.
Libertação das correntes do pecado.
Livramento da opressão do inimigo que quer nos destruir.

A liberdade é talvez o presente mais precioso que Cristo nos deu.
E é também um dos mais perigosos.
A liberdade traz responsabilidade e consequências.
A liberdade pode ser uma ponte para uma vida melhor.
Ou pode ser uma ladeira escorregadia para a destruição.

Se Augusto Pinochet, ou outro igualmente autoritário e dominador, quisesse se candidatar a presidente do Chile hoje, ele poderia.
E, se o povo Chileno esquecer as lições do passado e resolver escolher outro líder como Pinochet, eles têm essa liberdade. E eles sofrerão as consequências das suas escolhas.

Você já percebeu como a liberdade é ligada ao conhecimento?

Sem conhecimento você não está livre para usar um computador.
Sem conhecimento você não conhecerá a liberdade de dirigir um carro.
Sem conhecimento o trabalhador vive escravizado, o analfabeto permanece na ignorância, e o ditador continua mandando no povo, que não sabe que ele pode ser derrotado.
Mas, com conhecimento vem liberdade.
Ninguém sabia disso melhor do que Jesus.
“Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:31-32)

“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”


Com conhecimento vem liberdade.
Com conhecimento que vem para nós por meio da Bíblia, nós estamos livres para escolher ser livres para a eternidade.
Com o conhecimento que obtivemos por meio de pregações e aulas na igreja, podemos alcançar a verdadeira liberdade.

Liberdade do pecado.
Liberdade da condenação eterna.
Liberdade para escolher viver no céu pela eternidade.
E liberdade para decidir o que fazer com este conhecimento.

Você está livre para ignorar as aulas e pregações, para desprezar material didático que a igreja e os irmãos fornecem e nunca mais olhar.
Você pode escolher o esquecimento.
Você pode se dedicar ao conhecimento doutras áreas da vida – contabilidade, computação, cursos de inglês, etc.
Ou, você pode escolher fazer algo com esta liberdade que recebeu.

Você pode decidir não deixar esse tesouro cair no esquecimento.
Você pode decidir compartilhar aquilo que recebeu com outros.
Você pode escolher encorajar outras pessoas a mudarem de vida como a sua foi mudada.
Você pode decidir seguir adiante com seus estudos na Bíblia.
Você pode aumentar e aprofundar seu conhecimento da Palavra de Deus.
Você pode chamar outras pessoas a conhecerem também o verdadeiro caminho da liberdade.
As decisões, as opções são suas.

Mas, eu quero lhe encorajar – faça bom uso da liberdade que você recebeu. Aproveite bem o conhecimento que Deus lhe deu.
Aproveite bem, porque há tantas outras pessoas lá fora cambaleando nas trevas da ignorância, presas pelas correntes do engano, acorrentados pela escravidão do pecado.
Você foi agraciado com o conhecimento que traz liberdade.
Aproveite bem este conhecimento e esta liberdade.
Jesus valorizou tanto o conhecimento porque ele sabia do poder libertador que traz.
Ele sabia que, uma vez que um povo soubesse como se libertar das correntes do pecado, da condenação eterna, do medo da morte, esse povo estaria livre para sempre.
Foi por isso que Jesus enfatizou tanto o ensino. Porém, para você continuar livre, você tem que agir.

“Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:31-32)

Qual a condição fundamental para continuar na liberdade em Cristo?
Você tem que permanecer na Palavra de Jesus.
Você tem que praticar, viver aquilo que você aprendeu.
Faça isso.
Compartilhe o que você aprendeu com outros.
Viva os ensinamentos de Jesus no seu dia a dia.
Chame outras pessoas a seguirem a Jesus também.
Fazendo isso você será um verdadeiro discípulo de Jesus, permanecerá livre da escravidão do pecado e ajudará outros a se tornarem livres para a eternidade.

Tudo isso é nosso pela porta que Jesus abriu.
Vamos passar por ela e nunca olhar para trás.


Extraído de "A porta que Jesus abriu", de Dennis Downing